Fim e Início

Cheguei à entrada da gruta com uma caixa cheia nas mãos.
Abaixei a cabeça para entrar e acomodei os olhos para a iluminação escassa.
Procurei um espaço para me encaixar e deixei a caixa no chão.
Antes de me sentar, procurei pelo silêncio do fim do dia.
O zumbido nos ouvidos acompanhou meus olhos vazios de imagem.
Seria uma noite longa.
Acendi a lamparina e me instalei por cima do saco de dormir.
Parei, respirei fundo e toquei o primeiro desencontro.
Passei os olhos por suas linhas e rasguei calmamente o seu desfecho.
Não havia nessa história triste nada para ser guardado.
Peguei os registros da viagem, apertei-os contra o peito e trouxe para meu rosto o doce soprar de ventos.
Belos dias a serem guardados no canto mais nobre de minha memória.
Rasguei os registros e fui mais fundo na caixa.
O dia do medo.
Quase pude doer de novo.
As lágrimas pararam bem perto de cair.
Havia o que se aprender nesse episódio.
A vida tem um tempo que não nos pertence.
Não se antecipa a hora.
Olhei para o medo mais uma vez e
Rasguei com força.
Piquei em mil pedaços a dor sentida e queimei cada sombra de escuridão.
O peso saiu de meus ombros.
Puxei uma folha leve de história.
E ri um pouco ao me lembrar do fato.
Peguei outro dia e encontrei a lembrança de um reencontro.
Foi bom rever aquele sorriso doce.
Mais uma folha, mais uma história.
Arranquei as páginas de aflição e juntei cada noite de tormenta.
Rasguei tudo sem dó.
Segui o ritual sem pressa.
Avancei por cada fato, deixando para trás aquilo que envenena o coração,
E retive na alma apenas a lembrança nobre dos encontros.
Parei para olhar a luz avermelhada que avançava pela gruta.
Amanheceu.
A caixa vazia foi erguida com o meu corpo
E juntas seguimos para mais um ano.
1º de janeiro de 2012.

(Paulinha – 1º de janeiro de 2012).

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