Natal

Acordei cedinho
Todos dormiam
Desci a escada rapidamente
A mesa de jantar ainda estava com a toalha da ceia
E as luzes da árvore de Natal permaneciam acesas.

Sentei na ponta do sofá e esfreguei o vidro da janela com o punho das mãos
Chovia forte lá fora
Mal enxergava o outro lado da rua
Voltei o rosto para a sala e respirei profundamente ao me deparar com a árvore
Caminhei até ela e toquei levemente os galhos altos.

Estava presa em meus pensamentos
Quando ouvi um pequeno murmurinho
Um som infantil e abafado
Girei o corpo em meu próprio eixo e examinei a sala
Estranho
Aparentemente eu estava sozinha.

Antes que eu pudesse voltar a meus pensamentos
Fui interrompida pelo mesmo som
Tornei o corpo na direção da sala de jantar
E percebi uma sombra embaixo da mesa
Deixei os chinelos de lado e caminhei lentamente até o esconderijo de meu intruso
Estava tão entretido que nem percebeu minha movimentação.

Hesitei: que estaria ali?
Flexionei as pernas rumo ao chão e toquei levemente a toalha
Afastei o pano com muito cuidado
Apenas o suficiente para enxergar
E
Fui golpeada por uma tormenta de emoção
Aquela criança sentada no tapete,
Debaixo da mesa,
E com uma boneca Barbie nas mãos.
Era eu.
No auge da minha infância,
Entretida e feliz.

Abandonei o corpo no chão e
Estirada no tapete com os olhos voltados para o teto
Deixei o choro tomar conta da minha alma
E sacudir meu corpo com seus soluços
Afinal, eu tinha reencontrado a essência,
A doçura da infância
E a crença
De que o Natal existe
Sempre
Dentro de nossos corações.

(Paulinha - 15 de dezembro de 2010)

Postagens mais visitadas deste blog

Livro de Coletânea - 10 anos de Letras de Solidão (como adquirir o seu!)

... isolamento 4 (pandemia covid-19) ...

Salvar